"No estudo clássico de História do Brasil, a expressão "entradas e bandeiras" trata dos primeiros passos da exploração e colonização dos "descobridores" portugueses no século 16, ou seja, o desbravamento por uma terra ainda por conhecer. Em 1976, ano do lançamento de "Entradas e bandeiras" (pela gravadora Som Livre), a ideia proposta pelo trabalho de Rita Lee e da banda Tutti Frutti era a de desbravar o máximo da sonoridade que o rock pode oferecer. O resultado é de impressionar, a ponto de existir entre os aficcionados quem considere o grupo musical formado pelo guitarrista Luis Carlini (cujos solos instrumentais sempre chamam a atenção) como a melhor banda do gênero no Brasil. E que não era exatamente uma banda independente, mas sim, de apoio (atenção: isso não é um desmerecimento).
Embora "Entradas e bandeiras" atualmente tenha um status "cult" para os apreciadores, as circunstâncias da época revelam que o disco não foi tranquilo de se produzir e descambou em um resultado dramático, em especial para Rita. Em uma entrevista concedida para a jornalista Ana Maria Bahiana, cerca de um ano após o lançamento , Rita Lee resumia: "Eu detesto esse disco, nem ouço". Isso porque Rita Lee, que já vinha de um rompimento complicado dos eternos Mutantes, acabou adoecendo por conta do ritmo fortíssimo dos trabalhos de produção e o disco foi finalizado sem sua participação. Coincidência ou não, o disco tem uma música chamada "Superstafa", autoria de Lee Marcucci, Luis Carlini e Paulo Coelho. A letra trata dos contratempos mais comuns do mundo: "Chove só nos fins de semana / Quando a gente quer ir à praia / A caneta vive falhando / Sempre pinga café na saia".
Falando no atual escritor esotérico, a lavra de Paulo Coelho se fez presente em mais duas gravações de "Entradas e bandeiras": em "Posso contar comigo" (composta também com Carlini e Marcucci), cujo destaque é o refrão acompanhado de palmas "Posso contar comigo numa solidão / Mas ter algum alguém do lado é melhor pro coração"; e também em "Bruxa amarela" (junto com o eterno maluco-beleza Raul Seixas), onde além de fazer referências a velhas figuras dos contos infantis (Alice no País das Maravilhas e a bruxa voando na vassoura), a letra passa uma lição de maturidade nas relações humanas: "Aprendi a ler no rosto / O que as pessoas não querem me dizer / Aprendi a ler na alma / O que pessoas não podem me esconder).
Voltando às questões de produção, a capa impressiona pela beleza de Rita nos anos 1970: ombros nus, colar de pedras e a presença de um respeitável papagaio. Mas ela não ficou satisfeita com a imagem: "Detesto desde a capa (...): eu estou muito séria, muito circunspecta", avaliou, pois sempre foi conhecida pelo jeito "moleca". A contra-capa trazia a imagem dos cabeludos (um estilo desafiador de se exercer na década de 1970) integrantes do Tutti Frutti. Além dos já citados Luis Carlini (guitarras e vocais) e Lee Marcucci (baixo), também estavam presentes Sérgio Della Monica (bateria), Paulo Maurício (teclados), Rubens Nardo e Gilberto Nardo (vocais e percussão).
Rita e a banda vinham de um sucesso anterior de crítica e público ("Fruto proibido", com os hits "Ovelha negra" e "Menino bonito"). A situação não se repetiu em "Entradas e bandeiras". As únicas músicas mais conhecidas do grande público são a rebelde e questionadora "Coisas da vida" (composição feita unicamente por Rita), onde a própria roqueira toca o piano de base no arranjo ("É o fim da picada / Depois da estrada começa uma grande avenida / No fim da avenida, existe uma chance, uma sorte, uma nova saída / São coisas da vida / E a gente se olha, e não sabe se vai ou se fica") e "Com a boca no mundo" (Rita, Carlini e Marcucci), cuja regravação obteve sucesso na voz de Ney Matogrosso ("Uh, quantas vezes eles vão me perguntar / Se não faço nada, a não ser cantar?").
A avaliar por outras letras do disco de 1976, há outra sensação além do "desbravamento" musical: a de prenúncio dos rompimentos que estavam por vir e acabaram vindo. Isso é notado em "Lady Babel", mais uma composição do trio Rita-Carlini-Marcucci ("Talvez, talvez, é o sucesso que sobe a cabeça / Talvez, talvez, antes mesmo que ele apareça") e "Corista de rock", de Rita e Carlini ("O que eu era ou sou por enquanto / É tudo aquilo que eu digo e canto...). Em "Entradas e bandeiras", há ainda a debochada "Departamento de criação" (Rita-Carlini-Marcucci) e a lenta e maliciosa "Troca-toca" ("Toco minha guitarra / Quando ninguém me toca / Nunca fico sem jeito / Mesmo se alguém me sufoca").
Ao fim de tudo, uma série de fatos e mudanças inaugurou uma nova fase na vida de Rita Lee após a complicada produção de "Entradas e bandeiras": depois de desentendimentos, a artista rompeu com sua então empresária, Mônica Lisboa, iniciou o relacionamento profissional e afetivo com Roberto de Carvalho, engravidou de seu primeiro filho (mais conhecido como Beto) e chegou a ser presa por porte de maconha.
Quanto à banda Tutti Frutti, a parceria com Rita durou até 1978. Em 2007, alguns integrantes da formação clássica (Carlini, Marcucci, Rubens e Gilberto Nardo) chegaram a fazer alguns shows."
(http://www.sidneyrezende.com/noticia/196034+entradas+e+bandeiras+o+dificil+desbravamento+de+rita+lee).
Disco em ótimo estado. Capa em muito bom estado.
Edição Original de 1976.
Saindo por R$ 40,00
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