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sábado, 5 de setembro de 2015
Soft Machine - Third (1970)
"Soft Machine: "Third" é algo que desafia rótulos fáceis"
1961, nos arredores do Simon Langton School uma turma de estudantes das mais diversas áreas se reunia frequentemente para discutir assuntos ligados a arte em suas diversa vertentes: artes plásticas (Jackson Pollock, Mark Rothko), literatura (todos os beats) e música contemporânea (Stockhausen e Luigi Nono principalmente), alem de ouvir as novidades do jazz (Coltrane, Mingus, Coleman). E entre um copo de bebida e outro a turma costumava se reunir para tocar algumas jams.
Wild Flowers era o nome dado para o grupo que segundo reza a lenda mudava de formação a cada semana. Entre os mais assíduos frequentadores dessas jams estavam Mike Ratledge (teclados), Robert Wyatt (bateria, voz) e Kevin Ayers (baixo, voz). Em 1966 os três conhecem um freak australiano chamado Daevid Allen que além de tocar guitarra, iniciou o grupo na revolucionária técnica dos loops (sobreposição de fitas) e no uso de LSD. Nascia assim o Soft Machine, aquela que talvez tenha sido a maior e mais importante instituição inglesa no Rock.
Em 1967 já sob a tutela de Giorgio Gomelsky o grupo lança seu primeiro e único single “Love Makes Sweet Music” que tinha como lado B “Feeling Reeling Squeeelin’” com a participação de Jimi Hendrix que por esta época já tinha alcançado enorme sucesso na terra da rainha. Era tempo de psicodelia e o Soft Machine ao lado de nomes como o Pink Floyd (então sob comando do alucinado Syd Barret) era figura fácil em clubes como UFO e Roundhouse.
Durante uma excursão pela França em 1968 ocorreria um incidente que mudaria radicalmente a carreira do grupo Allen (australiano de nascimento), teve seu visto negado ao retornar para a Inglaterra, por lá ter trabalhado ilegalmente. Allen então decide ficar na França onde mais tarde ele fundaria o Gong (outro importante nome do movimento intitulado Canterbury Sound, nome dado as bandas inglesas de Rock psicodélico, que adotaram a cidade de mesmo como uma espécie de sede do movimento musical). O restante do grupo segue então como um Power trio e no mesmo ano grava seu primeiro álbum “The Soft Machine”, um verdadeiro ode a psicodelia entremeado de referências musicais britânicas.
Em abril de 1969 o grupo consegue um novo guitarrista, Andy Summers (o mesmo que ficaria famoso anos mais tarde no The Police), mas a tensão entre o integrantes acabou fazendo com que o grupo se separasse por um período de alguns meses e que os membros se dedicassem a projetos individuais. Wyatt resolveu ficar em Nova York para trabalhar com Hendrix, enquanto Ratledge e Ayers voltaram para a Inglaterra. Em dezembro, o baterista foi contatado pela Probe, que havia lançado o primeiro disco para tentar promover algumas apresentações da banda. Em março do mesmo ano dava as caras ao mundo o excepcional “The Soft Machine Volume Two”, mais conhecido como “Volume Two”, que conseguiu soar ainda mais ousado que seu antecessor e onde pela primeira vez se nota influencias diretas do Jazz no som do grupo, que começou a ganhar fama no circuito europeu de jazz e fizeram dezenas de shows na Inglaterra, Bélgica, Holanda e França.
Após uma excursão como o renomado Thelonious Monk no fim de 1969, um dos maiores jazzistas da sua geração o grupo resolve dar uma guinada em seu som, passando a investir em composições mais complexas onde o improviso se tornava o principal atrativo.
Finalmente em 1970, após um breve entra e sai de integrantes o Soft Machine se estabelece com aquela que é considerada por muitos como sua formação mais clássica que incluía: Mike Ratledge (teclados), Robert Wyatt (bateria, voz), Hugh Hopper (baixo, voz) e Elton Dean (Saxofone). Reforçados por um excepcional time de músicos de estúdio Nick Evans (trombone), Lyn Dobson (flauta, sax), Jimmy Hastings (clarineta, flauta) e Rob Spal (violino) o grupo grava então o disco “Third”. Considerado por muitos a obra definitiva do grupo, o disco é o maior exemplar do que se convencionou chamar Canterbury Sound, um mix de jazz, psicodelia com forte tendência ao então recentemente inaugurado rock progressivo.
O pioneirismo do grupo já fica evidente pelo formato inusitado do disco, um álbum duplo que contém apenas quatro longas faixas cada qual ocupando um lado da bolacha (para comparar o Beatles gravaram 30 canções para o também duplo “álbum branco”), mas são em suas ótimas composições que reside seu maior mérito.
A abertura se dá com a excepcional “Facelift”, na realidade uma junção de duas apresentações ao vivo no Fairfield Hall (Croydon, em 4 de janeiro) e no Mothers Club (Birmingham, em 11 de janeiro). Iniciada com uma avalanche de efeitos psicodélicos, a canção desemboca num maravilhoso Jazz brilhantemente conduzido por Wyatt e Hopper, onde se destaca os ousados solos de Ratledge, antes de encerrar com uma frenética passagem de som marcada por curtas, mas significativas frases no sax e flautas. Genial!!!!!
“Slightly All Time”, por sua vez investe em uma sonoridade jazz mais convencional, percebe-se uma riqueza de solos e variações bem típicas do jazz, aqui mais especificamente do potente sax de Dean, deliciosamente acrescentada por bases de flauta, teclados, baixo e de saxofone ao longo de seus 18 minutos de duração.
“Moon In June”, o grande atrativo do álbum, composta por Robert Wyatt é uma montagem de velhas canções, incluindo as feitas com Gomelsky. Tocada quase inteiramente apenas pelo baterista, que aqui está em uma das melhores performances já registradas por um músico em disco, teve uma pequena participação de Hopper e Ratledge. Essa foi também uma das últimas faixas a incluir vocal na obra da banda.
Em “Out-Bloody-Rageous” o teclado de Ratledge cria uma base com uma sonoridade psicodélica totalmente improvisada, para os demais integrantes (especialmente Dean) se esmerarem em excepcionais digressões jazzísticas, encerrando com chave de ouro esta obra prima do Rock.
Jazz Rock, Rock Progressivo, Rock Psicodélico? A beleza atemporal de “Third”, é algo que desafia rótulos fáceis e como bem disse Arthur G. Couto Duarte na ótima resenha do disco presente na edição 45 da antiga revista Showbizz: “A verdade é que "Facelift", Slightly All the Time" e "Out-Bloody-Rageous" e, principalmente, a insana fantasia de "Moon in June" permaneceram à parte de tudo que foi criado no período. Um vórtice de colagens radiantes, breaks violentos, espasmos, fugas de órgão, clusters de sax e devastações rítmicas que confluíam para um incandescente oceano sônico de basalto e leva vulcânica.”
"Third", devido a sua postura vanguardista, foi um fracasso comercial nos EUA entretanto na Inglaterra o álbum alcançou relativo sucesso, tendo o reconhecimento que uma obra prima desta magnitude merece.
A formação que gravou o disco se reuniria ainda em agosto de 1971 para a gravação do igualmente essencial "Fourth", um disco totalmente instrumental, que segue a mesma linha adotada no álbum anterior, sendo quase tão bom quanto. Entretanto, uma nova rixa entre os integrantes do grupo faria com que Wyatt abandona-se o combo e formasse ainda em 1971 o Matching Mole. Com a saída de Wyatt o Soft Machine perdia muito do carisma que marcava as apresentações do grupo até então.
Para ocupar a vaga deixada foi cooptado inicialmente Phil Howard musico que colaborava com a banda em algumas apresentações ao vivo, porém seu estilo de tocar não agradava a Dean e Hopper e este logo seria substituído por John Marshall, que tocava num grupo chamado Nucleus. Marshall era uma baterista muito técnico, porém a sua entrada marcava também uma nova fase na carreira do grupo voltada para o Jazz mais tradicional em detrimento da experimentação dos dois discos anteriores conforme comprovam os discos "Fifth", "Sixth" e "Seven" lançado respectivamente em 1972, 1973 e 1974, estes dois últimos já com Roy Babbington (também ex-Nucleus) no lugar de Hopper e com o multi-instrumentista Karl Jenkins substituindo de Elton Dean. Mas isso já é assunto para outras resenhas.
O fato é que "Third" ao lado de "Bitches Brew" de Miles Davis e "Hot Rats" de Frank Zappa, ao lado do histórico disco de estreia do Blood, Sweat & Tears de 1968, estão gênese do estilo denominado Jazz Rock e a partir destes trabalhos bandas como Gong, Caravan, The Gary Moore Band, Hatfield & The North e National Health realizaram envolventes aventura pelo gênero sem contudo encontrar a coesão dos modelos originais. Isto só confirma a posição do Soft Machine como uma das maiores, senão a maior, instituição do Rock Inglês no fim dos anos 60 e começo dos anos 70 (a despeito de Rolling Stones e Beatles) e o leitor pode ter certeza que nesta afirmação não há nenhum exagero."
(http://whiplash.net/materias/cds/143420-softmachine.html)
1.Facelift.
2.Slightly All Time.
3.Moon In June.
4.Out-Bloody- Righteous.
Disco (duplo) em ótimo estado.
Capa (dupla) com certo desgaste na borda (vide foto).
Importado USA.
Edição Original 1970.
Saindo por R$ 90
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