quarta-feira, 26 de março de 2014

Nektar - A Tab in the Ocean (72)



"Trabalho emblemático na carreira do Nektar, responsável por sedimentar a popularização do grupo na Alemanha e por abrir portas na América, 'A Tab In The Ocean' é de uma força incrível, impossível não apreciar a bateria vintage, o órgão carregado e a guitarra super inspirada que formam os pilares básicos durante a execução do disco. Outra característica marcante é a primazia com que o grupo é capaz de alternar as partes pesadas com outras suaves, com destaque para a pegada hard da cozinha, na linha de bandas como Deep Purple, Wishbone Ash, Scorpions e Eloy fase 'Inside'/'Floating'.

O grupo manteve a formação original para esse segundo disco, trazendo em suas fileiras Roye Albrighton - vocal e guitarra, Allan Freeman - teclados, Ron Howden - bateria e vocais e Derek 'Mo' Moore - baixo, vale destacar a participação nos efeitos de Mick Brockett que já havia trabalhado com o Pink Floyd alguns anos antes. O embrionário 'Journey To The Centre Of The Eye' trouxe à tona uma sonoridade marcada pelas origens do grupo em Hamburgo, na Alemanha, mas foi este segundo trabalho que alçou o grupo ao estrelato da cena progressiva mundial, repercutindo com sucesso nos EUA, provando que o Nektar foi o maior responsável pela concepção original da junção entre o mais puro krautrock (afinal estavam in loco, no coração do estilo), com os elementos do rock clássico inglês, capitaneado por bandas como Uriah Heep, Yes e notadamente o Pink Floyd, maior fonte de inspiração conterrânea para o grupo, antes de rumar para terras germânicas.

A primeira faixa, responsável pelo título do disco, é daquelas suítes que estão marcadas na história do rock. O tema é fortemente relacionado à temática de ficção científica que tanto agrada o Nektar, conforme anteriormente observado no álbum de estréia. A introdução marcada pelo órgão de Freeman é onírica e segue num crescente magnífico até desembocar numa segunda etapa pesada, onde se percebe a fórmula que marca a condução do grupo pela figura de liderança do guitarrista Roy Albrighton, daí pra frente a guitarra segue sempre em primeiro plano, deixando os teclados meio escondidos e a cozinha marcando com eficiência o ritmo dos vocais. Algumas vezes a mixagem que permite à guitarra estar sempre em primeiro plano, incomoda um pouco, já que na maioria das vezes ofusca os outros instrumentos, relegando-os ao pano de fundo. Na apresentação que o Nektar fez no palco do Canecão, no Rio de Janeiro, essa característica ficou nitidamente acentuada, tendo a guitarra sido executada num volume excessivo, tornado quase que completa a inexistência dos teclados, e ainda assim Roye insistia com os técnicos para aumentar o retorno da guitarra. Felizmente em Niterói, as guitarras estavam mais ajustadas e não tão ensurdecedoras, tornando a apresentação do grupo bem superior. Voltando à música título, a virada de ritmo ao seis minutos é marcante, após um movimento de turbação entre baixo e bateria, surge um solo suave de guitarra para os vocais de Roye - 'Falling, I'm only falling/To the answer, to every question/Is it real, or just deception? Depois outro movimento mais forte com o famoso rif de guitarra característico de 'A Tab In The Ocean', seguindo a linha hard até desembocar num movimento psicodélico com um coro de vozes agonizante.

Apesar dessa música ter sido a grande responsável pelo sopro de popularidade do Nektar nos anos setenta, ainda assim considero 'Burn Out Of My Eyes' superior, por isso aprecio como o grande disco da banda, o debutante. A verve blueseira de Roye aflora na introdução de 'Desolation Valley/Waves', um primor o desenvolvimento nas guitarras com notas choradas e um feeling incrível. A linha de baixo de Moore também arrebenta numa virada alucinante para o contraponto entre a força do hard e a suavidade do blues, permeado em tintas psicodélicas no hammond de Freeman. A partir dessa etapa percebe-se que o Nektar seguiu uma fórmula consagrada na época, semelhante a de sucessos como 'Tarkus' e 'Atom Heart Mother', que consiste numa longa suíte de abertura preenchendo a totalidade do lado A do vinil, com uma distribuição de faixas de curta/média durações no lado B.

'Crying In The Dark' é o maior hit do álbum, composição venerada pelos admiradores da banda, exaltada nos quarto cantos do planeta, ao pensar em Nektar, se pensa na força da letra: I've been cryin'/cryin' in the dark. O breve solo de teclado é o melhor em todo o disco, criando a deixa perfeita para um solo de guitarra matador do Roye Albrighton que culmina com o término da música, numa apoteose sem fim emendada com a resplandecente 'King Of Twilight'. O cover criado pelo Iron Maiden desta breve música nos anos oitenta, gerou um certo frenesi nos jovens fãs dos deuses do metal clássico, ocasionando uma certa busca pelo pilar original, que na própria Inglaterra era pouco conhecido em meados da década de oitenta.

A Rock Symphony lançou esse belo disco no Brasil, na mesma versão da Dream Nebula, contendo a versão original produzida na Alemanha e também a versão americana de 1976, onde esta segunda é muito superior à primeira, o instrumental está bem mais equilibrado, permitindo visibilidade a todos os instrumentos de forma mais equânime, ao contrário da versão original pautada nas guitarras. A destacar também a melhora nas bateria, com inúmeras viradas que não constam na versão germânica. A única exceção reside nos vocais, já que nessa mixagem americana o Roye desafinou bastante, com alguns falsetes super inverossímeis, mas não tenho a menor dúvida em optar pela versão americana quando coloco o cd no player. Para aqueles que pensam em adquirir essa versão nacional, podem se preparar para desembolsar a preço de importado, já que em menos de dois meses saiu de catálogo, sucesso total de vendas!"

(http://progbrasil.com.br/ExibeResenha.php?eID=713)


Lado um
"A Tab In The Ocean" – 15:31

Lado dois
"Desolation Valley" – 5:45
"Waves" – 2:53
"Crying In The Dark" – 5:27
"King Of Twilight" – 4:07

Disco e capa em excelente estado.
Importado USA.
Edição Original 1972.
Saindo por R$ 70,00

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