""Este disco foi uma coisa à parte", define Gilberto Gil. "Eu fui cantar em Montreux e eles gravaram o show... porque sempre gravam os shows do festival, mas acho que já sabiam que ia ter disco".
Gil havia sido contratado há pouco pela Warner e já estava trabalhando num primeiro disco em Los Angeles. Voltado para o mercado internacional, o álbum – "Nightingale", que estava sendo produzido por Sérgio Mendes – obviamente não seria lançado no Brasil. Mas a gravadora tinha urgência em inaugurar a sua discografia de Gil e quis aproveitar a performance do artista em Montreux para lançar um disco.
Gil seguiu de Los Angeles com o baixista Rubens "Rubão" Sabino, enquanto que os irmãos Pepeu Gomes (guitarra) e Jorge Gomes (bateria), ainda com os Novos Baianos, viajaram especialmente do Brasil. Naquela edição do festival também se apresentaria a banda A Cor do Som, então o tecladista Mu foi convidado a participar do show de Gil.
"Compus Chororô no quarto do hotel e lembro que ensaiamos por quatro ou cinco dias onde hoje funciona a Sala Stravinsky, mas que na época era apenas um depósito que nos foi cedido", lembra Gil. "A Warner quis a gravação, pois tinha o projeto de lançá-la e havia pressa por um novo disco".
É compreensível o interesse pelo lançamento do álbum duplo ao vivo, ocorrido no Brasil apenas um mês depois do show de 14 de julho. Era a primeira performance de um artista brasileiro no festival. Gravado em 16 canais por David Richards, do Mountain Recording Studio de Montreux, o disco foi mixado pelo produtor Mazola no estúdio Transamérica (RJ) e chegou ao mercado com textos de apresentação de Tárik de Souza, João Luiz de Albuquerque e Nelson Motta, críticos musicais presentes naquele histórico evento.
O repertório trazia duas pérolas do repertório dos Doces Bárbaros – Chuckberry Fields Forever e São João Xangô Menino – a inédita Chororô, a resgatada Respeita Januário (de Luiz Gonzaga) e as velharias Batmakumba, Procissão, Atrás do Trio Elétrico etc, sem contar uma jam session com A Cor do Som e o tecladista Patrick Moraz (ex-Yes).
Junho, 2002
Montreux
Nelson Motta
Gilberto Gil foi a grande sensação da noite de música brasileira e acabou se transformando num dos principais personagens do 12º Festival Internacional de Jazz de Montreux. Aplaudido durante quase meia hora pela platéia eletrizada após sua apresentação, Gil teve que voltar ao palco cinco vezes por exigência do público que esgotou a lotação do Cassino de Montreux. A apresentação de Gil foi num crescendo absoluto e já na terceira música tinha a platéia inteiramente dominada, cantando com ele e marcando o ritmo das canções com palmas. Com o público todo de pé, Gil apenas conduziu um entusiasmado coro de quatro mil vozes através de algumas de suas músicas mais ritmadas e envolventes, como "Batmakumba", gritada em delírio por todos nessa noite inesquecível para a música brasileira que pode perfeitamente vir a ter a mesma importância histórica que teve a apresentação da bossa nova no Carnegie Hall de Nova York há quase vinte anos. A crítica internacional presente se mostrava excitadíssima e agradavelmente surpresa com a que foi considerada como uma das mais importantes contribuições aos hoje gastos e fechados caminhos do jazz, sem perda da substância brasileira em que se baseia o trabalho de Gil.
Julho / 78
Gilberto Gil
Tárik de Souza
Além de ter os sons à flor da pele, o músico precisa dos poros abertos aos fluidos da platéia. Gilberto Gil sempre exercitou com precisão essas suas aptidões básicas. E no 12º Festival Internacional de Jazz de Montreux fez de quase quatro mil suíços outros tantos foliões baianos, aos pulos, atrás de seu trio elétrico eclético.
MONTREUX, JULHO / 78
"14 de julho de 1978"
João Luiz de Albuquerque
14 de julho de 1978 passou a ser uma data muito importante para a música popular brasileira. Naquele dia, no palco do Cassino de Montreux, na Suíça, um grupo de músicos brasileiros transformou o mais importante festival de jazz da Europa numa festa brasileira. Da marchinha carnavalesca ao baião, do tradicional à música moderna, rolou um som que aquelas 3.700 pessoas presentes – por sinal a maior platéia em 12 anos de Festival de Jazz de Montreux – além do público que assistiu a noite de Viva Brasil! através da televisão européia. Era sextafeira, dia de Oxalá. Gilberto Gil, todo de branco, como era de lei, disse ao entrar no palco, para o percussionista Djalma Correa:
- Toca alguma coisa para Oxalá.
O que aconteceu a partir daquele momento está registrado neste disco.
Além da qualidade artística e altamente emotiva da música apresentada, é preciso não esquecer o papel desempenhado pela platéia: de parte passiva, transformou-se, entusiasmada, em parte do próprio espetáculo. No palco, Gilberto Gil foi também o maestro, a controlar e modular aquela explosão de entusiasmo, levando do pianíssimo ao pique o comportamento daquele grupo enlouquecido pela música e ritmo do Brasil.
MONTREUX, JULHO / 78
1. 09:19 Chuck Berry fields forever
2. 07:40 Chororô
3. 10:00 São João, Xangô menino
4. 06:57 Respeita Januário
5. 04:17 Ela
6. 11:40 Batmakumba / Exaltação à Mangueira
7. 10:48 Procissão / Atrás do trio elétrico / Mamãe eu quero
8. 05:14 Triolê
Discos e capa em ótimo estado.
Edição Original de 1978.
Saindo por R$ 35,00
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