quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cazuza - Ideologia (88)



"Ideologia. Quem é que não quer uma pra viver? Pois era exatamente o que o Cazuza gritava nas rádios há 23 anos, na canção que dava o nome daquele que seria o seu mais emblemático álbum. “Ideologia”, o terceiro de sua carreira solo, é de longe um dos melhores discos da década de 80. Um pico criativo do artista, que infelizmente não iria durar por muito tempo.

No contexto, Cazuza ainda tentava se firmar como cantor solo depois de deixar o Barão Vermelho em pleno auge de vendas do disco “Maior Abandonado”. O fato é que seus dois primeiros discos, mesmo tendo emplacado alguns hits, ainda ficavam devendo algo para a crítica.

Esse quadro mudou com “Ideologia”, que tristemente coincide com as primeiras manifestações agressivas da aids, doença que ele havia contraído um pouco antes de 1988. Na contracapa do disco, ele aparece com um lenço na cabeça, que já era uma forma de tentar disfarçar a queda dos cabelos provocada pela doença.

“Ideologia”, a canção, foi mais uma parceria de Cazuza com Roberto Frejat, do Barão. É um hino dos anos 80. Cita que os heróis dos anos 70 haviam morrido de overdose e que os inimigos, uma citação clara aos políticos, estavam no poder. Também há citações metafóricas à aids (Meu partido é um coração partido/E as ilusões estão todas perdidas/Os meus sonhos foram todos vendidos/tão barato que eu nem acredito…o meu prazer agora é risco de vida…).

A canção seguinte, “Boas Novas”, é uma catarse sonora. Cazuza se revela novamente por inteiro, dizendo que tinha visto a cara da morte e que ela estava viva. Era a doença mais uma vez se manifestando em forma de música.

“O Assassinato da Flor” é uma canção mais leve, que lembra bastante sua época no Barão. E a “Orelha de Eurídice”, com letra mais densa, tem a participação do violonista Rafael Rabelo, que ironicamente também morreria de forma precoce alguns anos mais tarde. A faixa “Guerra Civil” foi resultado de parceria com Ritchie (aquele mesmo do hit “Menina Veneno”) e também tem a cara do Barão.

“Brasil” (parceria com George Israel e Nilo Romero) já tinha sido tema de novela da Rede Globo na voz de Gal Costa. Mas o arranjo da gravação de Cazuza também ficou antológico. Como não se identificar com o cara que ficava guardando os carros enquanto os ricaços bacanas entravam na festa para comer tudo do bom e do melhor? É, o País precisava mostrar mesmo a sua cara para tomar vergonha.

A canção “Um Trem Para as Estrelas” foi composta em parceria com Gilberto GIl. E havia sido trilha de filme no cinema. Ela ganhou um arranjo acústico mais intimista na voz de Cazuza.

“Vida Fácil” foi outra parceria com Frejat, que lembra bastante os tempos com o Barão. Letra com refrão de fácil memorização e melodia que parece inspirada em Erasmo Carlos. “Blues da Piedade” foi mais uma genial parceria com Frejat, em cujo refrão Cazuza reforça a necessidade de se pedir piedade “pra aquela gente careta e covarde”.

As canções seguintes, “Obrigado” e “Minha Flor Meu Bebê”, são mais fracas em relação ao restante. Mas aí, na última canção do disco, Cazuza se supera mais uma vez ao fazer a versão em bossa nova de uma canção escrita por ele e Renato Ladeira. “Faz Parte do Meu Show” grudou na memória de quase todos que passaram pelos anos 80. O arranjo de clima retrô, meio bossa nova e rock´n roll, só realçou ainda mais a beleza da melodia simples que Renato Ladeira compôs.

“Ideologia”, o disco, representou o pico criativo de Cazuza motivado pela doença que se manifestava a cada momento de sua vida, louca vida. Ele gravaria apenas mais dois discos, um ao vivo (“O Tempo Não Para”) e outro de estúdio (“Burguesia”). E só. Aquele menino que iria mudar o mundo passou a assistir a tudo em cima do muro dois anos mais tarde. Em julho de 1990, Cazuza morreu em busca daquilo que sempre quis: uma simples ideologia de vida."

(http://www.leriaselixos.com.br/disco-de-cabeceira-ideologia-cazuza-1988/)


Disco e capa em excelente estado; com encarte.
Edição Original 1988.
Saindo por R$ 50


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