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quarta-feira, 9 de outubro de 2013
Renato Teixeira - Azul (84)
"Renato Teixeira conclui: sua música não é triste...
:: “Minha música é otimista”, dizia ele, ao lançar seu disco Azul.
Renato Teixeira ouviu seu novo disco e chegou à conclusão de que sua música, afinal, não é triste.
É um rótulo que muitas pessoas usam, quando se referem à música de Renato Teixeira: triste. Ou fossenta, ou pra baixo.
- Minha música não é triste – diz Renato Teixeira. – Eu sempre tive um grilo com isso de as pessoas dizerem essas coisas. Eu não me acho um cara triste. Eu sou mais pelo lado da emoção, é verdade. Mas pra baixo eu não sou. Eu não sou pessimista. Minha música é otimista.
(E é a pura verdade, isso – como se mostrará neste texto. A música de Renato Teixeira é profundamente otimista.)
Mas ele próprio reconhece:
- E, no entanto, ela soa triste, né? Neste disco, não. O Tavito pegou o lado alegre da minha música. Então, ficou pra cima, sem ficar forçado.
O novo disco chama-se Azul, e está sendo distribuído hoje (26 de março de 1984) às lojas. É o oitavo LP de Renato Teixeira lançado comercialmente, em 16 anos de carreira, e o primeiro pela sua nova gravadora, o Estúdio Eldorado. São dez canções inéditas, todas do próprio compositor e cantor. O diretor de produção e autor de arranjos e regências é Tavito, mineiro de Belo Horizonte, ex-Som Imaginário (ao lado de Wagner Tiso, Robertinho Silva e Luiz Alves), três discos solo já lançados, o quarto em breve nas lojas. Renato e ele são velhos amigos, e inclusive, já trabalhavam juntos em publicidade (desde o início da década de 70 Renato Teixeira trabalha com publicidade, na criação e produção de jingles).
Renato conta que entregou as dez músicas que comporiam o disco nas mãos de Tavito. É dele, segundo Renato, toda a concepção do LP: “Eu praticamente só acompanhei a gravação. Não falei nada, não interferi. Até no jeito de eu cantar ele dirigiu. E foi bom, porque, depois do disco pronto, eu acabei descobrindo uma série de coisas muito bonitas no trabalho. E, inclusive, esse lado alegre, pra cima, que ficou nas músicas”.
Satisfação
Ele se mostra absolutamente satisfeito com o resultado final do trabalho. Fala com entusiasmo dos arranjos, dos instrumentistas (Djalma Monteiro, teclados; Fernando Carvalho, guitarra; Marcelo Castilho, bateria; João Mourão, baixo; Papete, percussão). E sente que, especialmente nas letras, sua criação está mais madura – resultado, em parte, de uma certa mudança que ele deu nos rumos de sua vida, a partir de 1982. Naquele ano, foi lançado seu sétimo disco distribuído comercialmente, Um brasileiro errante, o quinto – e último – pela RCA. Terminado o contrato com a gravadora, preferiu não renovar. Não houve briga ou rompimento: “O que houve foi uma diferença de estilo, de filosofia. A RCA é uma gravadora grande, que tem uma filosofia de trabalho que não é muito favorável a um artista que está no meu caso. É uma empresa mais preparada para outro tipo de coisa, mais…” – e Renato condescende em usar a palavra “comercial”.
E ele resolveu dar uma certa parada. Diminuiu o ritmo de seu envolvimento com a publicidade; antes, tinha uma produtora e tratava de todas as fases do negócio. Hoje, não tem mais escritório – continua criando jingles, mas apenas como free-lancer, sem um envolvimento tão grande. E passou a investir mais no seu trabalho de composição. Foi aí que se sentiu mais maduro, mais equilibrado.
A extensão disso foi sua chegada ao Eldorado. O estúdio não era estranho a ele: havia trabalhado lá muito tempo fazendo suas produções para a publicidade. E conhecia o hoje coordenador artístico do Estúdio Eldorado, Aluízio Falcão, praticamente desde o início de sua carreira, ainda nos anos 60. (Em 1969 e 1971, Renato Teixeira gravou seus dois primeiros discos – os dois não foram lançados comercialmente – para a Marcus Pereira Publicidade, que depois se transformaria na Discos Marcus Pereira, onde Aluízio Falcão então trabalhava.)
- O Eldorado é um estúdio diferente das grandes gravadoras. O pessoal já fala a mesma linguagem da gente, é outra transa. É um tratamento quase que personalizado para o artista, e no meu caso acho isso fundamental.
As gravações duraram todo o mês de janeiro. No disco, Renato colocou duas músicas que havia composto em 1969, mas jamais havia gravado (“Moreno Cigano” e “Azul”), e oito músicas bem recentes. Acha que as duas antigas encaixaram-se perfeitamente dentro do espírito e do clima das novas.
Gosta de todas. Reconhece que “Beleza” e “Tenho medo” são as mais facilmente assimiláveis pelo gosto dos programadores e dos ouvintes de rádio. Comenta que “Caetano está na cidade” é uma exceção dentro da sua produção: em 99% dos casos, diz, faz uma canção, letra e música, rapidamente, em 15, 20 minutos, de uma vez só, dedilhando o violão em qualquer lugar onde estiver, mesmo se for em meio a barulho, gente, fumaça, movimento; no caso desta “Caetano está na cidade”, ele primeiro fez a música, depois substituiu versos, elaborou, mexeu – levou dois meses para terminá-la. Tavito fez para essa música um arranjo que Renato chama de “meio Nino Rota” (o autor da trilha sonora da maioria dos filmes de Federico Fellini) – e “é isso mesmo, tem uma ligação com Fellini, um universo meio tropicalista”, já que a música é “uma homenagem, uma declaração de amor a Caetano Veloso, em que o autor procurou transmitir o universo de Caetano, o seu espírito provocante e provocador, o seu jeito alegre, divertido, meio irônico, meio cínico, de criar debate, polêmica, alvoroço. A letra fala da “nave humana que é mais luminosa” que acaba de chegar a uma cidade, atraindo o alvoroço de “mil tietes que vão beijar a sua boca”, que depois “irá cantar canções iluminadas”.
Renato demonstra também muito carinho por “Tear” – que ele define como uma proposta de entregar o poder aos pensadores e aos poetas, “gente que raramente esteve no poder”. (Ao contrário, nota Renato: quem geralmente está no poder é o oposto dos pensadores e dos poetas, “são as pessoas muito pouco pensadoras e que não têm nada de poetas”.) Assim como demonstra gostar especialmente de “Jacy” – uma bela, emocionante canção que leva o nome de sua mãe – e de “Boi Lua” – que considera a melhor letra que fez na vida. “Boi lua”, aliás, é a única música inteiramente acústica, sem qualquer instrumento eletrônico ou elétrico do LP, e a mais próxima, entre todas as músicas do novo disco, do universo caipira que esteve tão presente ao longo da carreira de Renato Teixeira."
(Publicado no Jornal da Tarde, 26/3/1984. Texto de Sérgio Vaz, in: http://50anosdetextos.com.br/1984/renato-teixeira-conclui-sua-musica-nao-e-triste/)
Disco e capa em ótimo estado, com encarte.
Edição Original de 1984.
Saindo por R$ 15,00
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