A história do filme Yellow Submarine
Com os Beatles metidos no estúdio e com a indisposição da banda de fazer turnês, Brian Epstein, o empresário, começou a pensar nas melhores formas de manter o grupo em contato com os fãs. O mesmo pensamento ocupou a cabeça de Walter Shenson por mais de um ano. Desde o filme Help!, Shenson se preocupara com a combinação certa de roteiro e diretor para melhor seduzir os Beatles a estrelar o terceiro filme exigido pelo contrato com a United Artists. A banda havia se saído muito bem interpretando a si mesmos nos filmes anteriores, mas os especialistas em atuação continuavam duvidando da capacidade da banda, e se perguntavam se eles conseguiriam sustentar um filme em que seriam obrigados a interpretar personagens que não fossem eles mesmos. Em dado momento, Shenson tentou convencê-los a aparecer como um quarteto de cowboys em um filme baseado no romance de faroeste satírico A Talent For Loving. Em outro momento, ele propôs que fizessem uma refilmagem de Os Três Mosqueteiros, com Ringo como D’Artagnan – um jovem abandonado que vai a Paris buscando se tornar parte do corpo de elite dos guardas do rei, os três mosqueteiros, que seriam John, Paul e George -. Em janeiro de 1967, Shenson pediu para o dramaturgo Joe Orton revisar um roteiro chamado Shades of a Personality, do qual os Beatles haviam comprado os direitos. Orton cumpriu a promessa e reescreveu o roteiro do começo ao fim, mas o resultado, rebatizado de Up Against It, foi considerado por Shenson totalmente inadequado para os Beatles.
Depois de todos os esforços de Shenson para fazer um terceiro filme dos Beatles, uma outra oferta atraiu Brian Epstein. Al Brodax era um produtor de televisão americano e tinha uma empresa chamada King Features Syndicate, que era responsável por uma série infantil de desenhos animados chamada Beatletoons, que estava no ar havia muitos anos na ABC TV. No começo de 1967, Brodax entrou em contato com Brian propondo fazer um filme de animação baseado no compacto “Yellow Submarine”. Tudo que a King Features queria dos Beatles era a confirmação do projeto e a permissão para usar suas músicas. Mas Brian Epstein gostou tanto da idéia do conteúdo visual do filme quanto do roteiro que se dispôs a convencer os Beatles a fornecer quatro músicas novas para a trilha sonora. As músicas foram “Only A Northern Song”, “All Together Now”, “Hey Bulldog” e “It’s All Too Much”, que eram sobras de gravações. Além das inéditas, a trilha continha “Yellow Submarine” e “All You Need Is Love”. O lado B eram composto por canções compostas e orquestradas por George Martin, sendo elas “Pepperland”, “Sea of Time”, “Sea of Holes”, “Sea of Monsters”, “March of The Meanies”, “Pepperland Laid Waste” e “Yellow Submarine in Pepperland”. Quando o projeto foi anunciado ao público, em junho, Brian já havia conseguido que a King Features contratasse uma equipe de produção que incluía alguns dos melhores jovens animadores do mundo.
A produção de uma animação requer um trabalho ainda mais árduo e colaborativo do que um filme convencional, e inúmeras pessoas ajudaram a tornar Yellow Submarine um filme bem melhor do que Al Brodax e seus sócios jamais pretenderam. Isso se deve, em maior parte, ao diretor Charles Dunning e ao desenhista Heinz Edelmann, cuja imaginação artística inesgotável tornou-se a força por trás do filme. Outro conceito quebrado por Edelmann foi ignorar os passos do tão copiado estúdio Disney. Em Yellow Submarine, ele deixou de lado o naturalismo e a uniformidade estilística e explorou a capacidade única da animação de transformar e justapor imagens visuais. Os resultados são completamente surreais e psicodélicos por natureza. Yellow Submarine mergulha, literalmente, em citações e trocadilhos visuais e referências a centenas de gêneros e estilos artísticos, entrando para a história do cartoon e inspirando artistas até os dias atuais.
Edelmann também fez uma contribuição essencial ao enredo do filme. O roteiro original, escrito de forma desleixada por Al Brodax e um publicitário de Hollywood chamado Lee Mintoff, era uma espécie de Beatletoon mais longo, com uma arte conhecida e nada visionária, completamente oposto a tudo na carreira dos Beatles. Percebendo que os Beatles precisavam de uma oposição na animação, Edelmann criou os Blue Meanies, que ele transformou em um exército de monstros satíricos.
Outro responsável pela surpreendente alta qualidade de Yellow Submarine foi Brian Epstein, que havia morrido meses antes, por ter passado seus últimos meses de vida rejeitando os esboços de roteiros medíocres que Al Brodax enviava para aprovação. A intolerância de Epstein forçou Brodax a procurar uma sucessão de consultores de roteiro, sendo os mais influentes deles o poeta de Liverpool Roger McGough, que ficou encarregado de dar um clima autenticamente scouse aos diálogos dos Beatles, e Eric Segal, um jovem professor de línguas clássicas em Yale e dramaturgo promissor, contratado para dar ao roteiro o polimento literário que Brodax presumiu ser o que Brian Epstein procurava.
Apesar da teoria dos Beatles de que a imprensa britânica azedara com eles depois do envolvimento com drogas e meditação, as críticas do filme foram positivas em sua grande maioria, exceto pelo filme ser longo demais. O filme foi elogiado pela inventividade e charme e comparado a clássicos da Disney, como Branca de Neve, pelos mais variados veículos de imprensa. “Jamais um desenho animado de longa-metragem arrebatou os ouvidos e os olhos de maneira tão hamoniosa”, declarou a revista Films in Review, opressora por natureza, cujo crítico encorajava os leitores a assistir ao filme mais de uma vez, “mesmo que se incomodem com os próprios Beatles tanto quanto eu”. O Observer considerou que o desenho capturava “a quintessência dos Beatles” mais do que as comédias de Richard Lester. “Uma obra de arte sofisticada para crianças e uma tira de quadrinhos para adultos, é um deleite constante para os olhos”, concluiu o Daily Express. Porém, apesar das críticas animadoras, as vendas de ingressos nas semanas seguintes à estreia em Londres ficaram abaixo das expectativas, o que levou a distribuidora do filme, a Rank Organization, a reduzir as proporções dos planos de lançamento. A Apple Films e a United Artists protestaram firmemente contra essa decisão, mas a Rank foi impassível. A empresa tinha divulgado o filme como se fosse um desenho animado infantil convencional, programando a estreia para coincidir com o início das férias de verão. Mas, no lugar de crianças em idade escolar, Yellow Submarine estava atraindo principalmente Flower Children, ou hippies, cuja presenção afastava as crianças e seus pais. Em vários cinemas de Londres, a Rank substituiu o filme por Peter Pan, da Disney. “Pelo menos esse as crianças conseguem entender”, teria dito um gerente de cinema, segundo a Newsweek.
O fracasso comercial de Yellow Submarine na Grã-Bretanha levara a King Features e a United Artists, distribuidora do filme, a adiar a estreia americana para o fim do ano. Quando a animação finalmente chegou aos cinemas de todo o país em novembro de 1968, foi um sucesso imediato de bilheteria, perdendo apenas para o musical A Noviça Rebelde em vendas de ingressos no período de festas de fim de ano, apesar da crítica ter sido bem mais irregular do que na Grã-Bretanha. Tanto a Time quanto a Newsweek escaldaram severamente o filme, que a primeira considerou “quadrado demais para os hippies e descolado demais para os quadrados” e a segunda descreveu como “uma bagunça tamanha, capaz de frustrar os fãs dos Beatles e assustar qualquer criança sensível”. Mas os outros críticos americanos amaram o filme: “Yellow Submarine confirma a muito repetida afirmação de que é para pessoas de todas as idades”, escreveu Stanley Kauffman no The New Republic. A crítica do New York Times, Renata Adler, publicou não uma, mas duas resenhas, nas quais elogiou a sofisticação visual do filme e dedicou um bom espaço nas colunas para listar as influências e alusões nele presentes.
Yellow Submarine assumiu a forma de uma fábula musical épica de brincadeira, ambientada no paraíso em tons pastéis de Pepperland, 80 mil léguas no fundo do mar, onde a vida é dominada por um Ethos de beleza, música e amor. Nas cenas de abertura, essa terra submarina de maravilhas é tomada em um ataque-relâmpago pelos Blue Meanies, que descem das colinas para escravizar a população, silenciar a música e banir toda a alegria do lugar. O único sobrevivente do massacre é Old Fred, maestro da orquestra nacional, a Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Ao conseguir escapar em um submarino amarelo, Fred parte rumo a Liverpool, onde procura pelos Beatles (que têm uma semelhança inacreditável com os membros da orquestra) e os convence a voltar com ele para Pepperland. A viagem no submarino – descrita por Ringo como “um pigmento da minha imaginação” – é repleta de aventuras. Ao finalmente chegarem à costa silenciosa de Pepperland, os Beatles se refugiam em um galpão para passar a noite e lá encontram os instrumentos e uniformes da Lonely Hearts Club Band. Ao amanhecer, vestidos nos uniformes, atacam com a música-tema de Sgt. Pepper, que causa pânico geral entre os Blue Meanies e traz a população congelada de Pepperland de volta à vida. A grande batalha que se segue é finalmente decidida em um único combate entre o beatle John, que canta uma versão em Technicolor de “All You Need Is Love”, e a arma derradeira dos Meanies, a Ferocious Flying Glove, que perde o G na luta, reescrevendo a vitória das forças do Amor (“Love”). Os Meanies são expulsos e renunciam ao mal, e a felicidade é devolvida ao povo de Pepperland. O filme termina com uma aparição dos Beatles em pessoa, que sorriem radiantes e inquietos diante das câmeras enquanto fazem piadas infames sobre Blue Meanies escondidos nos arredores do cinema."
(http://beatlescollege.wordpress.com/2013/02/28/a-historia-do-filme-yellow-submarine-2/)
Disco e capa ("sanduíche") em ótimo estado.
Edição Brasileira Original de 1969 ("ESTEREOFÔNICO").
Saindo por R$ 50,00
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