quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Tim Maia (70)



"O lançamento desse disco marcou o ano zero da música black no Brasil. Com seu álbum de estréia, aos 28 anos, Sebastião Rodrigues Maia abria um novo caminho para a nossa música. Se João Gilberto havia adicionado elementos jazzísticos ao samba criando a bossa-nova, Tim incorporava o soul dos negros americanos. E fazia isso de maneira tão natural, brasileira e popular que a identificação de seu som com o grande público foi imediata e definitiva.

É verdade que a jovem guarda já flertava com o balanço dos hitmakers da gravadora Motown, e o próprio rei Roberto Carlos gravou, em 1968, "Não Vou Ficar", o primeiro grande sucesso de Tim Maia como compositor. Porém, dois anos mais se passariam para que o país inteiro descobrisse que, além de ter muitos outros clássicos na cabeça, o cara cantava como ninguém jamais tinha conseguido deste lado do hemisfério e sabia exatamente como nivelar a música brasileira com o que havia de mais legal na época em matéria de soul.

Onze anos antes, Tim fizera um estágio nos EUA. Com apenas dezessete anos, preto e pobre, já era maluco o suficiente para se mandar para lá em plena barra pesada dos tempos pré-Martin Luther King. Isso no exato momento em que a derivação do rhythm'n'blues, que seria conhecida como soul music, começava a definir seus contornos. Ficou por lá até ser convidado a se retirar da festa pelas autoridades americanas (ele desabafaria em "Meu País", de 1971: "Sim, bem sei que aprendi muito no seu país / Justo no seu país /Porém, no meu país senti tudo que quis").

Mas foi por aqui que ele encontrou os elementos que tornariam a música que fazia tão rica e particular, como ficava comprovado no seu primeiro álbum. Com o paraibano Genival Cassiano compôs "Padre Cícero", uma irresistível mistura de forró e soul em homenagem ao preacher de Juazeiro. Essa feliz experiência genética teve seu ponto alto em "Coroné Antônio Bento" (Luiz Wanderley/João do Vale), onde a atuação vocal alucinada de Tim fazia a gente acreditar que Memphis ficava em pleno sertão de Pernambuco. Aliás, a participação de Cassiano - o outro grande arquiteto do soul Brasil - foi fundamental no disco. São dele "Você Fingiu", a sensível "Eu Amo Você" e o hit "Primavera" (as duas últimas em parceria com Silvio Rochael).

E se o mundo todo pudesse ouvi-lo, ele ainda tinha muito para contar: em meio ao belíssimo arranjo de cordas em "Azul da Cor do Mar", Tim tocou no nervo do dente da paixão latina ("Um nasce pra sofrer / enquanto o outro ri"). Desde então, poucos artistas tem convencido como ele, ao cantar a dor do homem espezinhado pela mulher ingrata.

Mais de duas décadas depois, o disco ainda impressiona pela riqueza das melodias e dos arranjos, além da atualidade sonora de faixas como "Cristina" (uma aula de como tirar música da alma) e "Flamengo".

Antes de sacramentar o samba-soul em "Réu Confesso" e "Gostava Tanto de Você" em 1973, Tim lançaria mais dois álbuns pródigos em gerar sucessos, todos pela atual Polygram - a mesma gravadora para onde fora levado pelos Mutantes.

Isso é que é discoteca básica, obrigatória."

(Seção Discoteca Básica - Revista Bizz - Cláudio Campos, Bizz nº 87, outubro de 1992)


Faixas:
1. Coroné Antônio Bento - 2:13
2. Cristina - 2:05
3. Jurema - 1:14
4. Padre Cícero - 2:23
5. Flamengo - 2:00
6. Você Fingiu - 3:58
7. Eu Amo Você - 4:05
8. Primavera (Vai Chuva) - 2:10
9. Risos - 2:36
10. Azul da Cor do Mar - 3:20
11. Cristina Nº 02 - 1:30
12. Tributo à Booker Pittman - 2:48


Disco em ótimo estado, sem riscos.
Capa em excelente estado.
Edição Original de 1970.
Saindo por R$ 50,00


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