quarta-feira, 29 de maio de 2013

Belchior - Alucinação (76)



"Nove entre dez jovens foram influenciados por estes versos nos idos de 1976; a ditadura militar ainda imperava, apesar da já prometida abertura, mesmo que "lenta e gradual", estar a vista, o medo do recrudescimento era latente, e esta incerteza no futuro político do País, na falta de perspectiva econômica, afinal o "milagre econômico" tinha virado "pesadelo econômico", batia um certo desespero nas pessoas. Ouvir "Alucinação" e ler "As Veias abertas da América Latina" do ótimo Eduardo Galeano, era para fazer qualquer jovem ir as ruas lutar contra o establishment.

Este foi o segundo disco deste cantor e compositor cearense, que chegou como um verdadeiro vendaval, na letárgica MPB da época, pela qualidade extraordinária de suas composições, suas letras eram o reflexo fiel da incerta sociedade da época, medo, solidão, humilhação, segregação, violência, fantasias, delírios, costumes, juventude, certezas e incertezas, desespero, esperanças, romances, tudo passava pelo caldeirão sonoro de Belchior... sem ser piegas, contestatório ou chato, ele detonava e alertava, principalmente para os jovens, que o destino a eles pertenciam: "Mas eu não estou interessado em nenhuma teoria, em nenhuma fantasia, nem no algo mais. Longe o profeta do terror que a Laranja Mecânica anuncia! Amar e mudar as coisas me interessa mais".

"Velha Roupa Colorida" e "Como nossos pais", duas das músicas mais emblemáticas deste trovador nordestino, a primeira, cheia de referências e saudosismos, tentava mostrar as mudanças pela qual a sociedade passava e a necessidade de seguir em frente com novos desafios: "Você não sente nem vê, mas eu não posso deixar de dizer meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer" (politicamente profético), para depois apontar os caminhos para o futuro "No presente a mente, o corpo é diferente e o passado é uma roupa que não nos serve mais"; na segunda, o alerta para a necessidade dos jovens procurarem novos caminhos e irem a luta: "Viver é melhor que sonhar", a sociedade estava meio que paralisada devido ao estrago cultural e político ocasionado pela ditadura, era preciso um grito de alerta "Por isso, cuidado, meu bem! Há perigo na esquina. Eles venceram e o sinal esta fechado para nós, que somos jovens". Estas músicas tiveram projeção nacional devido a magistral interpretação de Elis Regina, viraram sucesso instantâneos e entraram para o rol das melhores músicas do cancioneiro popular brasileiro... até hoje a interpretação de Elis não foi superada.

Com a força dada por esta grande descobridora de talentos , é que o restante do País pôde descobrir músicas como "Apenas um rapaz Latino Americano" que virou hino de todos os jovens que tivessem alguma preocupação com si próprio, com seu destino e o destino do País, os tempos eram difíceis e Belchior soube como ninguém expressar o sentido de vida dos jovens da sociedade da época, não tinha como não se identificar com os seus versos, assim como Chico Buarque refletia os jovens nos anos sessenta e Renato Russo nos anos oitenta, Belchior foi quem melhor expressou as aventuras e desventuras dos rapazes latino americanos no final dos anos setenta... "Mas não se preocupe, meu amigo, com os horrores que eu lhe digo. Isto é somente uma canção. A vida realmente é diferente. Quer dizer: ao vivo é muito pior."

Este disco é um verdadeiro tratado sociológico dos costumes sociais da época, um marco histórico da MPB; poucos discos mexeram tanto com os jovens.

"Se você vier me perguntar por onde andei
no tempo em que você sonhava,
de olhos abertos lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava"

Uma curiosidade: no enorme encarte com as letras do disco, em uma das faces, uma cópia de uma nota de dez dólares, com a foto central de Belchior e a sarcástica frase "IN GOLD WE TRUST".

(http://cantodocalado.blogspot.com.br/2010/04/lp-alucinacao-belchior.html)

Disco e capa em muito bom estado.
Edição Original de 1976.
Saindo por R$ 15,00

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