quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Return To Forever - Where Have I Known You Before (74)



"Obra explosiva do projeto, que posteriormente veio a se tornar banda, de Chick Corea, "Where Have I..." é o primeiro trabalho de Al Di Meola, na ocasião com apenas 19 anos, junto à Corea, Clarke e White.

Chick Corea, pianista de formação clássica, e jazz man nato, participou de excelentes trabalhos ao final dos anos sessenta, colaborando para a estruturação do chamado jazz rock / fusion, compondo por exemplo a banda sensacional de apoio a Miles Davis em "Bitches Brew". Possui excelentes trabalhos solo gravados no mesmo período, como "Sundance".

O Return to Forever foi um projeto onde o músico expôs parte do que criou junto a toda esta geração Free-Jazz e pós-Free Jazz / Fusion. Introduzindo temas latinos e tema etéreos ao Jazz, com bastante suingue e modernidade, Corea nunca teve pudores de utilizar todo seu arsenal de teclados em prol de um catching jazz de primeira.

Seu primeiro álbum com esta temática, "Return to Forever", de 72, conta com a participação decisiva do percussionista brasileiro Airto Moreira e de sua esposa Flora Purim (nos vocais). Clarke, companheiro inseparável a partir deste momento, também despontaria como referência definitiva para o contra-baixo no fusion. A entrada de White na bateria trouxe o brilho e o peso de um Cobham ou de um Narada Michel-Walden, acrescido de uma sutileza muitas vezes ausente nestes gigantes citados. Esta troca foi chave para a mudança de som da banda.

A sequência de álbuns transformou o som do Return to Forever, gradualmente, de um jazz light, baseado em temas bossa-novísticos recheados de piano elétrico Fender Rhodes para um fusion de primeira categoria, altamente virtuoso, elétrico e temperado (4 álbuns em 2 anos, grande sucesso comercial e de público). Com álbuns como "No Mistery", ganhador de Grammy, em 75, a banda estava definitivamente estabelecida, e o toque especial veio com a entrada de Di Meola, guitarrista absoluto, detentor de técnica apurada, tanto no violão como na guitarra elétrica, solista de sucesso durante e após o término da banda, ao final dos anos 70.

"Where Have I...", gravado entre Julho e Agosto de 74 no Record Plant, NY, esta no mesmo patamar de "No Mistery" e "Romantic Warrior" (talvez o mais conhecido do grupo, de 76, disco de ouro e um deleite para fãs de fusion espacial, caprichado em elementos progressivos e virtuosismo para dar e vender).

A capa remete sim a um som espacial, e é assim que Corea guia a banda através das sete faixas. Em um período de ouro para o Fusion, quando a maioria das grandes bandas e músicos estavam em plena atividade, o álbum transpira energia por todos os poros. O Return to Forever talvez seja o Mahavishnu Orchestra mais cabeça, menos nervoso. Sem dúvida mais jazzístico, mas a cada solo de Meola nos vemos diante de um paredão de guitarras do mais alto nível, do qual John McLaughlin sem dúvida um apreciador do trabalho de Meola, vindo a trabalhar com este anos mais tarde, reverenciou a empreitada com plena satisfação. Corea e banda sabem ser jazzísticos sem deixarem de soar progressivos. Improvisar sem confundir negativamente o ouvinte. As harmonias são de uma complexidade muito bonita, ao contrário de muito do fusion setentista: complexo e tão preenchido que se torna vago.

Ponto para Corea, compositor de MUITO bom gosto, conhecedor de uma infinidade de sonoridades, sempre soube dosar o som do Return to Forever muito bem.

"Vulcan Worlds" é uma pérola do fusion. O piano elétrico gorduroso, os slaps de Clarke, a levada gingada de White. No começo um descompromissado compasso fusion básico. Uma explosão rítmica de Moogs, e todo mundo solando. A orgia conta com Di Meola matador, seja no solo McLaughlinano, seja no Wah-Wah contagiante. Clarke e White really cookin' everything. Aí vemos o Return na sua essência: virtuosismo requintado e alegre. É isso aí.

As faixas com título "Where Have I..." são pequenas composições de Corea, contando basicamente com piano acústico e com temas mais standards. Tirando a faixa 6, que é um Funk matador, com percussão latina e muito Wah. Groove setentista a-la Hancock e Stevie Wonder. Funciona muito bem amigos. Lindo solo do Sr. Di Meola.

"The Shadow of Lo" tem piano elétrico com marca registrada de Corea e que também remete a Hancock. Melodia cadenciada, com levada básica de baixo, black music com apelo espacial. Aos poucos a composição se enriquece, com o solo altamente harmônico de Meola e o piano elétrico simpático de Corea compondo o pano de fundo. Passagens de Moog com sutileza e bom gosto. A segunda metade da música é fusion totalmente killer. Muito suingue e um belo duelo Corea-Moog versus Meola-Guitarra. Falar mais ?

"Beyond the Seventh Galaxy" compete com "Vulcan Worlds" quanto à faixa mais explosiva. Quebradas de ritmo desconcertantes, realmente desconcertantes. E aqueles fraseados em trio: baixo-guitarra-sintetizadores. Lenny White simplesmente quebra a espinha do resto da banda, e Corea cria um gancho melódico ao sintetizador, aquele que busca o músico do solo mais hipnótico, trazendo-o de volta à linha mestra, que se não causa excitação total, causa um desconforto pela riqueza da construção harmônica. Meola e Clarke fazem riffs de causar inveja a muitos Blackmore-Glover. Muito progressiva por sinal.

"Song to the Pharoah Kings", com seus 14 minutos, traz todos os elementos anteriormente citados em uma composição muito eclética em seu formato: Jazz standard, Fusion, Progressivo e Jazz espacial. A introdução de Corea ao piano acústico é memorável, e traz um clima bucólico muito calmo e gentil. Corea brinca com órgãos e sintetizadores em uma boa parte da composição, a entrada da banda é altamente intensa: Lenny White remete a Bruford, Corea desliza pelos sintetizadores em um som meio que oriental, meio que espacial. Os solos ao Moog estão entre os melhores no fusion em todos os tempos. Clarke e White estão altamente inspirados. A parte percussiva é agressiva, e os riffs do garoto Meola garantem uma energia sem precedentes. A faixa coloca o álbum definitivamente entre os tops do Hard Fusion, próximo por exemplo ao Inner Mounting Flame. Talvez seja a melhor do álbum, porque não? Dizer que é obrigatório conferir seria redundante meus caros.

Sem dúvida uma obra prima do fusion. Com elementos fortes de rock progressivo, "Where Have I Known You Before" é daqueles álbuns que demoram a sair do CD Player, ou da vitrola, como preferir. Siga o caminho das pedras e confira "No Mistery" e "Romantic Warrior" na sequência: não há arrependimento."

(http://esquinadorock.blogspot.com.br/2009/09/return-to-forever-where-have-i-known.html)

1.Vulcan Worlds
2.Where Have I Loved You Before
3.The Shadow of Lo
4.Where Have I Danced With You Before
5.Beyond the Seventh Galaxy
6.Where Have I Known You Before
7.Song To The Pharoah Kings



Disco e capa em ótimo estado.
Edição Brasileira Original de 1974.
Saindo por R$ 35,00


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