sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Milton Nascimento e Som Imaginário - Milagre dos Peixes - ao vivo 1974



"Em 1973, um ano após o lançamento de seu famoso álbum “Clube da Esquina”, Milton Nascimento lançou o álbum “Milagre dos Peixes” gravado nos estúdios da EMI Odeon, no Rio de Janeiro, mostrando um lado bem mais experimental de seu trabalho, contando com um variado número de instrumentos, como violão, viola, sax, violino, berimbau, piano, cello, orgão, percussões, baixo, bateria, cavaquinho, clarinete, flauta, oboé, trompete, e também com muitos efeitos produzidos com sua voz, que deram ao disco uma atmosfera pesada e sofrida, refletindo os problemas enfrentados por Milton durante a ditadura. O álbum causou controvérsias devido a ao teor político de suas letras, que foram praticamente todas censuradas pela ditadura:

“É claro que as músicas tinham um teor político, mas não era nada explícito. Houve um exagero por parte da censura, porque nunca preguei que o pessoal pegasse em arma e coisa e tal; a gente só botava pra fora o nosso descontentamento com tudo, não só com o Brasil, mas com o mundo. Fiquei puto da vida quando a gravadora me propôs gravar um outro disco. Disse que não, que o disco ia sair como estivesse; se não havia letras, que as pessoas entendessem. E foi uma surpresa pra EMI Odeon em todos os sentidos, porque o disco vendeu bem, fora a repercussão que causou. Como músico, o Milagre foi muito importante, porque foi aí que me larguei na música de uma forma diferente, passei a usar minha voz como um instrumento.

A própria EMI chegou a censurar internamente obras minhas. A música chamada “Bodas” tecia alguns comentários não muito elogiosos à rainha da Inglaterra, que por sinal ainda é a maior acionista da EMI. Aí eles acharam que não ia pegar bem; eles foram os censores, daí sempre tive que usar aquele negócio: “Quer? Não quer, me libera!”.

No fundo, você acaba descobrindo a censura de tudo que é lado, às vezes levando sustos com censura dos próprios colegas, então é muito doido. Eu acho que cada um tem de ser de circo pra aguentar essa estrutura que foi montada em cima da gente, em cima do ser humano.”

Em 1974, Milton, juntamente com a banda Som Imaginário, gravaram o álbum Milagre dos Peixes ao vivo no Teatro Municipal de São Paulo, acompanhados por uma orquestra com arranjos de Wagner Tiso, Paulo Moura e Radamés Gnatalli. O álbum teve grande aceitação por parte do público, e conseguiu reunir cerca de 10 mil pessoas num show realizado na Cidade Universitária de São Paulo. No repertório também tem músicas de trabalhos anteriores como “Nada Será Como Antes”, “Cais” e “Clube da Esquina”.

“Foi um lance muito interessante, porque eu nunca fui intimista, sempre fui muito aberto. Pelo contrário, eu estive e vivi muito perto do rock, da música pop, o tempo todo. O trabalho com o Som Imaginário para mim foi como se fosse um trabalho de cinema, de teatro. Vestimos nossa música com uma roupagem elétrica. Foi uma época importantíssima, muito bonita.”

O sucesso do ábum descontentou os militares, que já não viam Milton com bons olhos desde a sua participação na Passeata dos 100 mil. No início dos anos 70 ele foi afastado de sua esposa e seu filho que viviam em São Paulo, sendo avisado por telefone sobre as consequências que ele teria caso tentasse visitar a família.

“O telefone tocou e era uma pessoa da ditadura dizendo que eu estava proibido de ir à São Paulo, principalmente na rua tal, onde morava minha esposa na época e meu filho, porque se eu fosse, eles iam raptar meu filho, sem volta. Matar meu filho. Mas eu não liguei para aquilo e fui mais umas 3 vezes, então quando eu cheguei em casa no Rio outra vez, o cara falou assim “Olha, essa foi a última vez, o último aviso, se a gente te ver aqui, ele vai sumir, pra nunca mais”. Aí foi o mais horrível que aconteceu na minha vida. As pessoas não entendiam porque que eu bebia tanto, porque que eu não ia a São Paulo e mil coisas e eu não podia falar nada, nem pra minha mãe eu podia falar nada.”

(http://tecnicolor.art.br/2011/08/milagre-dos-peixes-3/)




• Milton Nascimento & Som Imaginário . Milagre dos Peixes Ao Vivo

Gravado ao vivo no Teatro Municipal de São Paulo, nos dias 7 e 8 de maio de 1974.
Direção Musical: Maestro Gaya
Orquestradores: Paulo Moura, Wagner Tiso e Radamés Gnatalli
Regência: Paulo Moura

Músicos Participantes:
Luiz Alves: Baixo
Robertinho: Bateria
Toninho Horta: Guitarra
Nivaldo Ornelas: Saxes e flauta
Wagner Tiso: Piano e órgão
Orquestra Sinfônica de São Paulo

• Disco 1
Lado A
01 . A Matança do Porco/Xá Mate (Wagner Tiso, Nivaldo Ornelas) – 9:26
02 . Bodas (Milton Nascimento, Ruy Guerra) – 5:02
03 . Milagre dos Peixes (Milton Nascimento, Fernando Brant) – 4:04
04 . Outubro (Milton Nascimento, Fernando Brant) – 6:25
Lado B
05 . Sacramento (Nelson Angelo, Milton Nascimento) – 3:37
06 . Nada Será Como Antes (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) – 4:28
07 . Hoje é Dia de El Rey (Milton Nascimento, Márcio Borges) – 7:40
08 . Sabe Você (Carlos Lyra, Vinícius de Moraes) – 4:00

• Disco 2
Lado A
09 . Viola Violar (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) – 4:17
10 . Cais (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) – 4:47
11 . Clube da Esquina (Milton Nascimento, Lô Borges, Márcio Borges) – 3:55
12 . Tema dos Deuses (Milton Nascimento) – 4:04
Lado B
13 . A Última Sessão de Música (Milton Nascimento) – 1:56
14 . San Vicente (Milton Nascimento, Fernando Brant) – 5:16
15 . Chove Lá Fora (Tito Madi) – 4:15
16 . Pablo (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) – 4:45

Discos (duplo) e capa (dupla) em ótimo estado; com encartes.
Edição Original 1974.
Saindo por R$ 45

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