quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Alberta Hunter - Remember my Name (1979)



É uma das lendas do século 20, e tinha uma vida muito intensa e mostra isso na sua maneira de cantar. Suas gravações de jazz e clássicos do blues são simplesmente incríveis. Ela foi uma cantora pioneira cujo caminho cruzou o jazz, o blues e a música pop. Ela fez contribuições importantes para todos esses gêneros e teve uma carreira que sobreviveu seis décadas. Viajou extensivamente por conta própria a partir de 1925, quando ela comprou uma passagem para a França. 

Alberta Hunter foi um das primeiras cantoras negras, juntamente com Sippie Wallace, a fazer a transição dos humildes prostíbulos e clubes onde se apresentava para a ribalta internacional. Ela se tornou parte da era do jazz, e deu a Bessie Smith uma de suas composições, ‘Downhearted Blues’. Ela cantou em prostíbulos e cantou para Al Capone e para Eisenhower. Ela viajou o mundo, cantou em Londres e gravou com Louis Armstong e Duke Ellington. Então, ela desapareceu da música e trabalhou como enfermeira durante vinte anos atendendo a pacientes que não tinham idéia de quem ela tinha sido.

Alberta desafia qualquer categorização e sua longevidade como artista popular é igualada por poucos. Com oitenta anos ela encenou um retorno impressionante à música deixando sua marca como cantora de jazz e blues para multidões e com quatro novos álbuns antes de sua morte. Uma mulher incrível. Gravou ‘Amtrak Blues’ com 83 anos. A música ‘My Handy Man’ com Alberta, em comparação com a versão de Ethel Waters em 1920, é pura diversão. Sim, Alberta era uma mulher muito velha quando gravou este álbum e ainda assim desfrutou completamente de si mesma e cantou sobre sexo com dignidade e credibilidade. Este álbum é uma jóia absoluta. Sua voz está até melhor do que em 1920. Uma voz que eu prefiro, áspera e de personalidade mundana que ela adquiriu ao longo dos anos.

Quando ‘The Glory of Alberta Hunter’ foi gravado, Alberta Hunter tinha 87 anos e estava desfrutando de seu renascimento como artista. Grande sobrevivente da década de 20, Alberta estava, de algum modo, persuadida a retornar ao estágio em que se tornou grande estrela da vida noturna de Nova York. Neste álbum, apoiada por grandes músicos, Alberta está claramente se divertindo. 

Curiosamente ela não era tão interessante quando mais jovem em comparação com pesos pesados da época, mas a idade lhe deu a liberdade do charme que não tinha antes. Basta ouvir como ela termina ‘I've Had Enough’: ‘And if I never see you again brother...good bye, sayonara, au reuvoir, see ya see ya, auwiedersehn, hasta la vista…’. Rindo de si mesma é uma despedida rancorosa de uma amante. Ou em ‘Sometimes I'm Happy', batendo palmas e incentivando os músicos como se eles estivessem na casa dos 80 anos e não o contrário. Impossível não gostar. 

Alberta nasceu em Memphis. Seu pai abandonou a família quando ela nasceu, e sua mãe tornou-se o ganha-pão trabalhando como empregada doméstica em um bordel. E Albeta passou a infância entre uma mãe rigorosa, que lhe ensinou a ser auto-confiante e respeitar a si mesma, e uma avó que viu nela potencial e o desejo louco de viajar. Sua educação musical precoce veio de sua exposição às bandas de blues da Beale Street. Quando W.C. Handy veio a Memphis com seu blues em 1905, Alberta correu para ouvir. 

Aos dezesseis anos, ela fugiu para Chicago e foi descascar batatas em uma pensão. Cativada pela vida noturna da cidade, começou a se apresentar em bordéis e clubes. Sua estréia profissional foi no clube ‘Dago Frank’, um lugar freqüentado por bandidos. Alberta permaneceu ali por dois anos e só saiu depois que o clube foi fechado. Sua mãe se juntou a ela em Chicago logo depois. As duas desenvolveram a política do ‘não pergunte, não diga’ para que não fosse discutido a sua homossexualidade ou os problemas conjugais de sua mãe. E ela foi cantar em clubes um pouco mais respeitáveis. Em 1915 ela estava cantando no ‘Panama Café’, um clube da moda que servia a clientela branca. Este lugar também foi fechado depois de um assassinato.

Em 1919 era celebridade em Chicago, e começou a prestar mais atenção à sua imagem. Nessa época havia poucos artistas abertamente homossexuais, e cantores de blues e jazz eram obrigados a ostentar a falsa heterossexualidade e Alberta não foi exceção. Casou-se com o garçom Willard Saxby Townsend do clube onde cantava, mas o casamento nunca foi consumado. Dois meses depois Townsend pediu o divórcio que só foi concedido em 1923. E Alberta Hunter já estava morando em Nova York com o grande amor de sua vida, Lottie Tyler, sobrinha do comediante americano Bert Williams. Em 1927, ela e Tyler embarcaram para Paris, onde Josephine Baker já era uma estrela. Foi uma oportunidade para escapar do racismo e preconceito norte-americano e se tornar reconhecida por seu talento. No entanto Paris foi também onde ela rompeu com Tyler, que se tornaram boas amigas depois. Em 1928, sem Tyler, que tinha retornado aos Estados Unidos, Alberta deixou Paris e foi para Londres.

Sua primeira aparição profissional em Londres, dois dias depois que ela chegou, foi no Picadilly Circus. Depois de um breve retorno a França, para abrir o ‘Cotton Club’ de Paris retornou aos Estados Unidos em 1929. Se ela pensou que o seu sucesso absoluto em Paris e Londres seria suficiente para abrir as portas nos Estados Unidos ela estava enganada. A depressão econômica mantinha as pessoas longe das casas noturnas. Em 1934 ela foi para Copenhagen, na Dinamarca. E novamente para Londres. Quando a segunda grande guerra estourou e Paris caiu nas mãos dos nazistas, artistas negros retornaram a Nova York, fazendo com que a concorrência por empregos fosse muito aguerrida. Adicionando a isso surgiu uma nova geração de cantoras liderada por Ella Fitzgerald, Billie Holliday, e Lena Horne. E a carreira de Alberta esfriou. 

Imperturbável ela encontrou uma nova carreira, cantando para os soldados americanos na Segunda Guerra Mundial como membro do ‘United Service Organizations’ (USO). Experimentou um ataque aéreo e em teatros se apresentou para o general Eisenhower, o marechal Montgomery e Marshal Zhukov. Mais tarde continou a entreter os soldados durante a Guerra da Coréia. Alberta Hunter saiu do show business por duas décadas a partir de 1956, e foi trabalhar como enfermeira em um hospital na cidade de Nova York. Ela somente quebrou a rotina em 1961, a fim de gravar um álbum com seus velhos amigos Lovie Austin e Lil Hardin Armstrong. 

Nenhum de seus pacientes ou colegas de trabalho do hospital tinha a menor idéia de quem ela era ou quão famosa ela tinha sido, e Hunter preferiu dessa maneira. Aposentou-se como enfermeira em 1977, e em 1981 estava pronta para voltar à estrada. Gravou quatro discos incluindo o extraordinário ‘Amtrak Blues’, que para muitos jovens fãs são os registros definitivos de Alberta Hunter. 

Curiosamente, estes mesmos fãs têm pouca paciência para o seu doce e precioso cantar dos anos 20, e pouca tolerância para o seu trabalho nos anos 30 com Jack Jackson. No entanto, todas as gravações de Alberta são interessantes e importantes para o jazz e o blues. Ela continuou a se apresentar quase até o fim. Em Denver, no verão de 1984, ela finalmente decidiu que não podia mais continuar e voltou ao seu apartamento em New York. Alberta Hunter faleceu pouco depois.

Neste disco Alberta compôs e interpretou as canções para o filme "Remember my Name", escrito e dirigido por Alan Rudolph, produzido por Robert Altman e protagonizado por Geraldine Chaplin e Anthony Perkins. 

(http://pintandomusica4.blogspot.com.br/2010/08/alberta-hunter.html)

Disco e capa em ótimo estado.
Edição Brasileira 1979.
Saindo por R$ 25


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