quarta-feira, 2 de abril de 2014

The Waterboys - Fisherman's Blues (1988)



"Existem dois discos do Waterboys que eu guardo com grande carinho: This is the Sea e Fisherman's Blues. O primeiro por conter "The Whole of the Moon" e "Don't Bang the Drum", duas canções que ouço até hoje. Mas foi com Fisherman's Blues que me apaixonei de vez pela banda. Eu fiquei fã do violino de Steve Wickham e dos outros músicos. O disco fecha com um poema de William Butler Yeats, "The Stolen Child", que foi musicado.

Mike Scott é um desses caras que você fica à vontade para bater um papo. Apesar da dificuldade de seu sotaque, meio escocês, meio britânico, teve a paciência de conversar comigo em uma ligação para Londres. Mike lembra bem do nascimento de Fisherman's Blues: "Reuni um pessoal na Irlanda e na Escócia para começar um novo projeto. Eu queria algo mais perto da cultura dos dois países, instigado pelas jams que fazíamos nos shows, improvisando músicas de This is the Sea com outras inéditas. Durante as gravações, ficávamos horas e horas improvisando músicas". O disco é um bom antídoto para quem precisa de um momento para sentar e pensar na vida. Melodioso, foi gravado em duas partes: a primeira, de janeiro até março de 1986, e a segunda, de março a maio de 1987, na Irlanda.

Como não poderia faltar, há uma versão delicada para um trabalho que um irlandês gravara, "Sweet Thing", de Van Morrison. "Van é o maior referencial da Irlanda quando você fala em música. Obviamente que os jovens conhecem pouco e tenham crescido ouvindo U2, de quem sou amigo e gosto. Mas Van, puxa, é aquela coisa: a voz, as melodias, seu jeito de interpretar. Ele é abençoado". Uma curiosidade no disco é a faixa "World Party", que fez com Karl, que a adotou como o nome de sua banda.

Mike Scott conta que foi influenciado por Lou Reed, Bob Dylan, Jimi Hendrix e Rod Stewart em sua primeira fase. "Quando éramos garotos na Grã-Bretanha, o punk era a maior referência cultural para nós. Eu até gostava de algumas bandas, mas não tinha muito a ver com o que eu ouvia. Clash e Pistols ficaram para a história, são bandas maravilhosas, mas eu gostava daqueles discos de música celta, folk, de ouvir a voz de Dylan ou mesmo de Van. Minha afinidade estava aí".

Aos 21 anos, mudou-se para Londres e formou o Another Pretty Face. A formação durou de 1979 até 1981, com Scott nos vocais e guitarras. No mesmo ano mudou o nome para Waterboys, roubado da canção "The Kids", do álbum Berlin de Lou Reed. "Era uma experiência maravilhosa ouvir música. Parecia que não tinha fim. Quando descobri Lou Reed, fiquei fascinado. Aquelas letras, que eram pornográficas para a época, me deixavam babando. Eu queria ser músico mais do que qualquer coisa".

Contando com músicos como Steve Winckham, Anthony Thistlewaite, Trevor Hutchinson e Roddy Lorimer, começou o projeto Fisherman's Blues. "As músicas tinham que soar como uma continuação da outra. Usamos instrumentos típicos da Irlanda e começamos o processo de criação. Mas eu tive que parar no meio de 1986 para promover o This is the Sea, que acabara de ser lançado. Só pude retomar em 1987 a finalização do álbum. Uma das características que mais gosto do disco é que agradou fãs de várias idades. Eu cheguei a ser elogiado por crianças e adultos, que confessaram amar o trabalho. Tive sorte de tocar com grandes músicos, que participaram ativamente do projeto. Na verdade o Waterboys era eu e Anthony, mas como teve tantos convidados e amigos entrando na produção, o Waterboys ganhou mais integrantes, parecidos com uma grande família".

O disco serve como uma boa introdução às músicas mais antigas da Irlanda. Grupos como Dubliners e Chieftains já faziam o mesmo som desde os anos 60 e ainda continuam. "Quando o disco estava quase pronto, eu queria uma coisa diferente para fechar. Escolhi musicar "The Stolen Child", de Yeats, por ter paixão a esse poema e toda sua obra. Quando você produz alguma coisa que te agrada é como chegar mais perto de Deus, não pela perfeição, mas pela emoção e humildade que transparece nas faixas. Eu não gosto mais de uma música do que outra, isso é trabalho dos DJs. O meu é escrever, tocar e propocionar bons minutos de música para os meus fãs, não importando quem sejam. O trabalho tem que ser honesto, necessita de uma doação pessoal e muita concentração. Quando componho, fico totalmente focado no que estou fazendo. Compor uma música ou uma melodia pode não ser tão complicado, mas fazer com que todos toquem aquilo que você quer e passar sua visão do projeto para os outros é muito mais trabalhoso. Às vezes dá vontade de desistir, mas não faço isso. Eu sei o que desejo e vou até o fim do trabalho. Você tem que acreditar em si mesmo".

Eu tenho três cópias do disco, duas em vinil e uma em CD. Tive que comprar dois discos porque quase furei o primeiro de tanto ouvir. Se você quer escutar um disco que faça bem ao espírito, vá atrás de Fisherman´s Blues. Conhecerá um outro lado da Irlanda e verá que lá não há apenas o U2.

Fiquem com a letra da faixa título. Um abraço.


Fisherman's Blues

I wish I was a fisherman
tumbling on the sea
far away from dry land
and its bitter memories
casting out my sweet line
with abandonment and love
no cieling bearing down on me
save the starry sky above
with Light in my head
and you in my arms

I wish I was the brakeman
on a hurtling, fevered train
crashing headlong into the heartland
like a cannon in the rain
with the beating of the sleepers
and the burning of the coal
counting the towns flashing by
in a night that's full of soul
with Light in my head
and you in my arms"

(Por Rubens Leme da Costa, in: http://www.collectorsroom.com.br/2009/09/mofo-waterboys-fishermans-blues-1988.html)


Faixas:
A1 Fisherman's Blues 4:29
A2 We Will Not Be Lovers 7:05
A3 Strange Boat 3:09
A4 World Party 4:03
A5 Sweet Thing 7:16
A6 Jimmy Hickey's Waltz 2:08

B1 And a Bang on the Ear 7:35
B2 Has Anybody Here Seen Hank? 3:21
B3 When Will We Be Married? 3:03
B4 When Ye Go Away 3:47
B5 Dunford's Fancy 1:06
B6 The Stolen Child 6:57
B7 This Land Is Your Land 0:58


Disco em ótimo estado. Com encarte.
Capa em muito bom estado (levemente envelhecida).
Edição Brasileira de 1988.
Saindo por R$ 25,00


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